quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O Pilão Mágico



O Pilão Mágico


“Era uma vez dois irmãos que viviam juntos em um pequeno vilarejo. O irmão mais velho trabalhava duro o tempo todo, porém o mais novo era muito preguiçoso e não procurava nada para fazer. Um dia, o irmão mais velho foi em direção as montanhas em busca de trabalho. Enquanto caminhava, um homem idoso surgiu à frente dele e lhe deu um pilão feito de pedra, do tipo usado para triturar arroz ou moer trigo para fazer farinha.

- Este é um pilão mágico que dará a você qualquer coisa que deseje – contou o homem.

Feliz da vida, o irmão mais velho correu para casa com o pilão, gritando:

- Por favor, me dê arroz. Precisamos de arroz – falando desse modo, ele enfiou o socador no pilão. De uma só vez surgiram muitos e muitos quilos de arroz. Havia tanto arroz que ele distribuiu para todo o vilarejo.

- Isso é maravilhoso! Será de grande ajuda, muito obrigado! – disseram os aldeões, que estavam muito felizes. Todos menos o irmão preguiçoso.

- Eu gostaria de ter esse pilão. Poderia usá-lo muito melhor – resmungou para si mesmo.

Um dia, ele roubou o pilão mágico e fugiu.

- Ninguém conseguirá me alcançar se eu puder chegar até o oceano – pensou, enquanto corria para o mar.

Quando chegou ao mar, o irmão preguiçoso encontrou um pequeno barco a remo. Ele o pegou e remou com toda a força em direção ao alto mar. Logo estava muito distante, bem no meio das ondas grandes.

- Já sei! Gostaria de ter um monte de bolinhos doces e deliciosos – pediu o jovem enquanto batia com o socador dentro do pilão.

- Puxa! Como são bons! E que monte de bolinhos eu consegui!
O irmão preguiçoso comeu todos os bolinhos de arroz. Eram tantos, e tão doces, que ele começou a sentir vontade de comer algo salgado para tirar o sabor doce da boca.

Então, enfiou o socador dentro do pilão novamente e ordenou:

- Desta vez, mê de sal. Quero sal! Quero sal!

E assim o sal saiu aos montes do pilão, muito branquinho e brilhante. E continuou vindo e vindo.

- Já basta! – gritou ele. - Tenho o suficiente. Pare!

Mas o sal continuou vindo e vindo, e o barco começou a afundar.
Quando o irmão afundou com o barco, ele ainda gritava:

- Já basta! Já basta!

Mas o pilão continuou produzindo mais e mais sal, mesmo no fundo do oceano, e continua isso até hoje. É por isso que a água do mar é salgada.” 


Obs.: Livro de consulta: As Histórias Preferidas das Crianças Japonesas, Livro 02, 2005, pág. 06, Editora JBC. 

Análise do texto:

Em outras palavras, quem se esforça e procura conhecer a Verdade, irá vivenciar dentro de si, onde todas as dúvidas da Criação passarão a ser esclarecidas, assim, passando a atuar construtivamente.

Recebendo conscientemente, poderá trabalhar distribuindo verdadeiramente aos outros, e no caso da história, a fartura do arroz simboliza a fartura do saber espiritual.

E o irmão mais novo era muito preguiçoso, e não procurava nada para fazer, preferindo ficar no sopé da montanha, que na sua indolência espiritual, não estava disposto a se movimentar, procurando sempre o caminho mais fácil, e se possível, reivindicar as riquezas do Paraíso Espiritual, de uma forma mais cômoda possível.

O mesmo texto nos traz um segundo ensinamento de que não devemos nos apropriar indevidamente de uma mensagem elevada ou uma mensagem do Altíssimo, utilizando apenas para fins impuros e egoístas, ou para atender as nossas fraquezas e a nossa vaidade.

O afundar no mar, significa que ele deixou de existir e atuar conscientemente nesta vida terrena pesada e no mundo mais fino.

Esta história dos dois irmãos é um alerta, no qual o irmão mais novo se julgou pelo seu próprio proceder.Uma advertência, para que nossos nomes não sejam apagados do livro da vida.


                                               Escrito por: Yoshio Nouchi 

O Vendedor de Sandálias



O Vendedor de Sandálias

“Há muito, muito tempo, em certo lugar, viviam um velhinho e sua esposa. Eles eram honestos, mas extremamente pobres. Um dia, perto do fim do ano, os dois escutaram algumas crianças cantando do lado de fora da casa.

A canção que as crianças cantavam era assim:

“Oh, Senhor Ano Novo, onde está você?

Estou bem atrás das montanhas de neve.

Oh, não se esqueça de nos trazer doces e lembranças.

Sim, darei bolinhos mochi redondos para as crianças”.

Ouvir as crianças cantando sobre o Ano Novo fez com que o velhinho e sua esposa se sentissem muito tristes e sozinhos. Isso porque este ano eles não tinham dinheiro e não podiam celebrar o Ano Novo.

- Oh, querido – a esposa idosa suspirou. - O Ano Novo é depois de amanhã e nós não temos nenhum arroz. Assim, não podemos fazer bolinhos mochi. Não teremos nenhum mochi para comer no dia de Ano Novo, e Ano Novo sem mochi não é Ano Novo.

O velhinho se sentou triste ao seu lado, balançando a cabeça. Mas, de repente, teve uma ideia.

- Eu sei o que farei. Levarei as sandálias de palha para o povoado e as venderei em um instante. Com o dinheiro poderemos comprar algum arroz e fazer bolinhos mochi.

O velhinho foi ao povoado, carregando as sandálias de palha em uma longa vara apoiada sobre as costas. Era um dia muito, muito frio, com vento forte e repleto de neve.

Ao chegar ao povoado, começou a caminhar pelas ruas gritando:

- Sandálias de palha! Sandálias de palha!

Mas todos estavam muito ocupados e ninguém queria comprar sandálias de palha. Ele prosseguiu caminhando, caminhando e gritando:

- Sandálias de palha! Sandálias de palha!

Porém, não conseguiu vender um único par.

Logo depois, outro homem idoso veio pela rua vendendo carvão vegetal. 
Ele gritava: - Carvão! Carvão!

Os dois velhinhos se encontraram na rua e começaram a conversar.

- Como vão os negócios? – perguntou o vendedor de carvão.

- Terríveis! – respondeu o vendedor de sandálias. – Eu ainda não vendi um único par. Todos estão ocupados demais se preparando para o Ano Novo.

- Eu também não consegui vender nenhum carvão – disse o outro. – Venha, vamos caminhar juntos para ver se temos maior sorte.

Assim, eles se puseram a andar juntos.

- Sandálias de palha! Sandálias de palha! – gritava um.

- Carvão! Carvão! – gritava o outro.

Mesmo assim, eles não conseguiram vender nenhuma mercadoria. O tempo foi passando, passando, e suas vozes foram ficando mais e mais fracas. Também estavam com muito frio, e nevava ainda mais. Finalmente, escureceu por completo, e eles não tinham feito uma única venda. Desse modo, decidiram parar e voltar para casa.

Então, o vendedor de carvão disse:

- É realmente muito ruim levar para casa as mesmas coisas que trouxemos. Por que não trocamos? Assim, você poderá levar meu carvão para casa e eu levarei suas sandálias de palha.

- Essa é uma boa ideia – concordou o vendedor de sandálias. Assim, eles trocaram de mercadoria e foram embora.

Quando o vendedor de sandálias chegou em casa, sentia muito frio. Ele contou à velha esposa as más notícias: não conseguira ganhar um único centavo.

- Mas pelo menos eu trouxe esse carvão – ele disse à mulher. – E nós podemos nos aquecer.

Assim, acenderam a lareira com o carvão e sentaram-se em volta para se aquecer. Porém, caíram no sono, e não notaram a presença de um minúsculo ogro, que pulou sobre o fogo e se escondeu em seu armário para observá-los. O ogro tinha apenas uma polegada de altura, mas se parecia com o vendedor de carvão que o velhinho encontrara naquele dia.

Após o velhinho e sua esposa irem para a cama, o ogro saiu de seu esconderijo e disse: - Hoje, eu senti pena desse pobre velhinho e lhe dei esse carvão mágico. Toda fagulha que cair de seu fogo se transformará em um pedaço de ouro. Depois, o ogro desapareceu.

Desse modo, quando o velhinho e sua esposa acordaram na manhã seguinte, encontraram uma grande pilha de ouro perto da lareira. Eles ficaram muito surpresos e também muito felizes. Assim, puderam comprar todo o arroz que quiseram, e fizeram mochis deliciosos no Ano Novo. E o velhinho nunca mais teve de sair na neve para vender sandálias de palha.” 

Obs.: Livro de consulta: As História Preferidas das Crianças Japonesas, Livro 02, 2005, pg. 58, Editora JBC.

Análise do texto:

 Apesar da não realização dos desejos terrenos, se mantivermos boa vontade,pureza nos pensamentos e no coração, os auxiliadores estarão coletando estas boas sementes e plantando lá num outro mundo mais fino, demonstrando que nós não devemos separar as nossas vidas do Aquém e do Além, sendo apenas uma coisa única, que outros auxiliadores estarão tecendo fios do destino favoráveis ou desfavoráveis, conforme o nosso proceder.


Segue um ditado que se enquadra nesta história:

“Muitas vezes, a não realização dos desejos terrenos é o melhor auxílio”.


    
      Escrito por Yoshio Nouchi

Hiroshima Taro.



Hiroshima Taro.
“Há muito, muito tempo, havia um jovem pescador que vivia no litoral. Seu nome era Urashima Taro.

Um dia, enquanto caminhava ao longo da praia, ele viu que alguns meninos tinham apanhado uma grande tartaruga do mar. Eles estavam importunando e espetando a tartaruga com varetas.

Taro tinha um coração muito bondoso, e odiava ver pessoas sendo cruéis com os animais. Por isso, ele disse: - Meninos, por favor, deixem a tartaruga ir embora. Ela não faz mal a ninguém, e vocês não deviam ser malvados com ela. Tratem de levá-lade volta ao mar.

Os meninos ficaram envergonhados de si mesmos. Eles colocaram a tartaruga de volta na água e a observaram nadar, feliz, para longe.

Muitos dias depois, Taro estava novamente caminhando pela praia quando ouviu uma voz dizendo:

- Taro! Taro!

Ele olhou ao redor, mas não pode ver ninguém.

- Quem está me chamando? – perguntou.

- Aqui estou – disse a voz vinda do mar. Quem falava era uma tartaruga que vinha rastejando na areia.

- Sou a tartaruga que você salvou outro dia. Quando retornei ao palácio no fundo do mar, contei à Princesa do Mar o que você tinha feito. Isso a deixou muito feliz, e ela me pediu para que eu o levasse ao seu encontro.

- Sempre quis visitar o fundo do mar – respondeu Taro, que subiu na carapaça da tartaruga e foi carregado velozmente até muito fundo, onde ficava o grande palácio, nas profundezas do mar.

- Taro, você foi muito bondoso com meu servo, a tartaruga – disse a princesa. – Eu queria lhe agradecer, por isso pedi que a tartaruga o trouxesse até aqui. Por favor, seja meu amigo e esteja no meu palácio para sempre. Nós seremos muito felizes, e você poderá ter tudo o que desejar.

Taro acabou ficando no palácio com a Princesa do Mar. No início, comeu pratos maravilhosos, viu coisas incríveis, e estava muito feliz. Mas, depois de um período que lhe pareceu durar poucos dias, começou a sentir saudades de casa e de seus amigos da superfície.

Ele ficou pensando sobre como estavam seu pai e sua mãe.

- Tenho sido muito feliz aqui, mas quero voltar à terra e ver meu lar e meus amigos. Por favor, me leve de volta à minha terra.

- Está bem, Taro – respondeu a princesa. – Se você está determinado a ir, 
o levarei de volta. Mas fico triste por vê-lo partir. Nós temos sido tão felizes juntos! Como recordação de sua visita, darei a você esta bela caixa. Enquanto a possuir, poderá voltar para me visitar sempre que quiser. Porém, Taro, nunca abra, jamais! Se a abrir, nunca mais poderá voltar aqui. Não abra a caixa.

Taro pegou a caixa, agradeceu a princesa pelo período fantástico que passou no fundo do mar, subiu na carapaça da tartaruga e rumou de volta para casa.

Ao chegar à praia, a vila tinha mudado. Ele não podia nem mesmo encontrar sua própria casa. Foi então que perguntou a algumas pessoas na praia:

- Onde fica a casa de Urashima Taro, e onde estão seus pais?

- Meu jovem, por que você pergunta sobre coisas que aconteceram há muitos e muitos anos? Urashima Taro se afogou há tanto tempo que muitos de nós nem mesmo éramos nascidos. Que estranho você não saber disso!

Taro estava intrigado. Como era possível? Ele era o mesmo, ou pelo menos assim pensava, mas as pessoas e o local eram diferentes. Será que o segredo desse mistério estaria na caixa que a Princesa do Mar havia lhe dado? Ele pensou sobre isso por algum tempo e depois, finalmente, decidiu abrir a caixa, apesar de a Princesa do Mar tê-lo avisado para que nunca o fizesse.

Taro retirou a tampa, e uma estranha fumaça branca saiu da caixa e o envolveu. Ele tocou sua face, e descobriu que estava toda enrugada e que possuía uma longa barba branca. Sem se dar conta, ele havia passado muitos e muitos anos no fundo do mar, e não apenas alguns dias.

A caixa mágica conservara-lhe sempre jovem, mas agora a fumaça vinda da caixa o transformara no homem velho que realmente era. Seus amigos tinham partido, e uma vez aberta a caixa, ele jamais poderia retornar ao palácio da Princesa do Mar. Taro ficou chorando na praia.”

(Obs.: Texto extraído do livro: As Histórias Preferidas das Crianças Japonesas, Livro 02, 2005, pg. 31, Editora JCC.)




Análise do texto:

A história nos ensina que há muito tempo, habitávamos uma região onde era o ponto extremo de um reino, onde ele tocava de leve o início de outros reinos inferiores ou planícies.

Para a possibilidade de crescimento, não era possível ascender a novos planaltos superiores, sem antes colher vivência e aprendizado, peregrinando pela Criação, onde para transpor um grande Reino para outro, seria conduzido carinhosamente por servos do Altíssimo, transpondo reinos intermediantes até chegar a parte mais afastada e pesada da Criação.

Só nesta região longínqua seria possível servir de tudo aquilo que era útil para o nosso próprio progresso.

Continuamente deveria empreender um esforço sincero para o reconhecimento das leis eternas da Criação, e trabalhar para promover o bem, assim fazendo desabrochar todas as capacidades latentes da nossa origem.

Devemos nos manter vigilantes e alertas para não cairmos nos engodos dos falsos ensinamentos que semeiam a tentação, e evitando que se caia nas garras do falso príncipe, princesa e de seus súditos, onde eles pregam ruína dos espíritos humanos, baseado numa vida faustosa de gozo, prazeres terrenos e outros, apagando assim, definitivamente as lembranças da terra natal.

Se não empreendermos todos os esforços, correremos sérios riscos, e quando despertarmos no último instante, o nosso espírito já se encontrando velho e cansado, não teria mais forças para encontrar o caminho de volta, perdendo assim a finalidade da própria existência.

Urashima Taro, uma mensagem de grande valor espiritual, para cada um de nós.

  Escrito por: Yoshio Nouchi

O macaco de rabo curto


O macaco de rabo curto



“Era uma vez um macaco muito jovem e tolo. Ele estava sempre pregando peças e fazendo coisas perigosas e tolas. Todos os outros macacos viviam lhe dizendo para ser mais cuidadoso, ou qualquer dia acabaria se machucando, mas ele não escutava.

Certo dia, o macaco tolo correu pela floresta, subindo nas árvores mais altas e pulando entre os galhos mais longos. Mas ele era tão descuidado que caiu da árvore em cima de uma moita de espinhos, e um espinho longo e pontiagudo espetou a ponta do seu rabo.

-Ai! Oh! Ai!- ele berrou, segurando a cauda. – Oh, como isso dói - gritava muito alto.

Como podem ver esse não era de modo algum um macaco durão. Naquele momento, um barbeiro passava por ali, carregando sua navalha. Quando o macaco o viu, pediu:

- Por favor, Senhor Barbeiro, ajude-me a cortar estes espinhos do meu rabo.

O barbeiro abriu sua navalha pra cortar os espinhos fora. Mas lembre-se, o macaco tolo não era muito corajoso. Ao ver a navalha se aproximar de seu rabo, gritou:

-Oh, isso vai doer! – e deu um grande pulo.

A navalha atravessou o rabo, cortando a ponta fora!

Quando o macaco se deu conta do que havia acontecido, ficou muito bravo.

- Veja só o que você fez com o meu rabo - disse ele. Você precisa colocá-lo de volta, do contrário terá de me dar a sua navalha.

O Barbeiro não pôde colocar o rabo do macaco de volta, e, para compensar, deu-lhe a navalha. O macaco foi caminhando pela floresta, levando a navalha consigo. Ele parecia muito idiota com o rabo curto, mas estava tão orgulhoso da navalha que nem parou para pensar no seu próprio rabo.

Em seguida, o macaco dirigiu-se a uma velhinha que estava recolhendo lenha na floresta. Alguns dos gravetos eram longos demais, e ela estava tentando quebrá-los em pedaços menores para levá-los a sua casa. O macaco observou a velhinha por um instante. Ele queria muito mostrar a alguém sua bela navalha, e essa seria uma boa chance. Então, ele disse:

- Olhe vovó, eu tenho uma navalha bonita e afiada. Você pode   pegá-la emprestada para cortar a lenha, se quiser.

A velhinha ficou muito satisfeita.

- Muito obrigado, macaco – respondeu ela, e começou a cortar a madeira com a navalha do macaco.

Acontece que uma navalha não foi feita para cortar lenha, e logo a lâmina ficou cheia de fendas e cortes. Quando o macaco viu isso, ficou muito bravo.

-Veja só o que fez com minha navalha! Você precisa me devolver a navalha do mesmo jeito que estava antes, ou terá de me dar a sua lenha.

Claro que a velhinha não pôde consertar a navalha. Assim, ela entregou a lenha ao macaco. Então o macaco tolo seguiu caminhando para a floresta, carregando a lenha com ele. Ele parecia idiota com o rabo curto, mas estava tão orgulhoso da lenha que nem pensou em seu próprio rabo.

Um pouco depois, o macaco viu uma confeiteira fazendo biscoitos. Acontece que o macaco adorava biscoitos mais do que qualquer outra coisa, e ficou com uma vontade de comer alguns. Ele disse:

- Olhe confeiteira, tenho lenha ótima e bem seca. Você pode pegá-la emprestada para assar seus biscoitos.

A confeiteira ficou muito satisfeita, porque a madeira que estava usando era verde e não queimava muito bem.

-Muito obrigada, macaco – disse a confeiteira.

Então, pegou a lenha e a colocou todinha no fogo. Acontece que o fogo estava muito alto e a lenha seca queimou rapidamente. O macaco ficou observando até que todos os biscoitos fossem assados. Oh, como cheiravam bem! Ele ficou lambendo os beiços. Finalmente, a confeiteira tirou os biscoitos do fogo. A essa altura, toda a lenha tinha sido queimada até as cinzas. Quando o macaco viu isso, ficou muito bravo.

-Veja só o que você fez com a minha lenha! - reclamou ele. – Agora, precisa devolvê-la para mim da mesma maneira que estava antes. Do contrário, terá de me dar alguns biscoitos que assou.

- Mas como eu posso devolver a lenha? – perguntou a confeiteira. – Você a viu queimando no fogo.

- Eu não posso fazer nada - disse o macaco. – Você precisa         devolvê-la, ou terá de me dar alguns biscoitos.

Naturalmente, a confeiteira não conseguiu transformar as cinzas em lenha novamente, portanto, teve de dar ao macaco alguns biscoitos, ainda fumegantes, saindo do forno. O macaco tolo seguiu caminhando pela floresta, mordiscando os biscoitos deliciosos. Ele parecia muito idiota com aquele rabo curto, mas estava tão ocupado comendo os biscoitos que nem prestou atenção em seu próprio rabo.

Nesse momento, o macaco viu um velhinho carregando um velho gongo de bronze.

- Não seria maravilhoso ter um gongo como aquele? – disse o macaco a si mesmo. – Assim, todo mundo me escutaria.

Ele ainda tinha muitos biscoitos de sobra, então falou:

-Ei, vovô, eu tenho alguns biscoitos deliciosos aqui. Vou dar-lhes em troca deste maravilhoso gongo. E ele deu ao homem um dos biscoitos para experimentar. O velhinho comeu o biscoito, e achou tão delicioso que quis comer mais.

- Você pode levar o gongo, e eu ficarei com os biscoitos - concordou o velhinho.

O macaco pegou o gongo e subiu até o topo da árvore mais alta da floresta, onde os galhos eram finos. Ele parecia idiota com o rabo cortado, mas estava tão orgulhoso de si mesmo e de seu gongo de bronze que nem pensou a respeito. Ele bateu o gongo com força e cantou tão alto que todos os macacos ouviram. E foi isso que cantou:

- Sou o macaco bonito,

o verdadeiro rei da cocada,

com o meu gongo de bronze,

sou o líder da macacada

Bong! Bong! Bong!

Eu tinha um belo rabo

e o troquei por uma navalha,

e a troquei por alguma lenha,

e a troquei por uns biscoitos,

e os troquei por um gongo -

um belo gongo de bronze

Bong! Bong! Bong!

O macaco tolo cantava balançando seu rabo curto no ar, e parecia muito estúpido aos macacos que assistiam ao espetáculo. No momento do último “Bong!”, ele bateu no gongo com tanta força que caiu da árvore, bem em cima de outra moita de espinhos. Os outros macacos riram muito, enquanto tiravam os espinhos do macaco tolo. Após o ocorrido, eles o apelidaram de Macaco Rabo Curto Bong Bong, e nunca mais ele pôde esquecer-se do próprio rabo.” 

Obs.: Livro de consulta: As Histórias Preferidas das Crianças Japonesas, livro 01, 2005, pág. 100, editora JBC.

Análise do texto:

Convido os leitores e amigos a interpretar algumas histórias da cultura japonesa com a nossa intuição. Sendo assim, esta mensagem serve para que não enveredemos na mesma trilha, em que a história é bem clara, e para que não abriguemos a vaidade dentro de nosso íntimo.

Ela torna as pessoas injustas, provocando sofrimento e prejuízo aos outros. 

Essa atitude deixa as pessoas cegas e intolerantes, e só tende a aumentar cada vez mais, sem se importar com os valores dos outros. Assim, chega ao ponto de toda sua comunicação estar impregnada na maestria para enganar a si mesmo, alertando que, até correríamos os riscos de comercializar partes de nossos corpos para atender aos desejos insaciáveis da vaidade.

Ao olhar de um observador sereno, o qual inúmeros auxílios já recebeu, torna-se ridículo todo esse proceder.

A advertência mais grave era para que os seres humanos não viessem a abrigar a vaidade espiritual, e assim, não procurassem mais saber como deveriam viver para serem agradáveis ao Altíssimo.
A vaidade tem inúmeras faces e cabe a cada um avaliar e reavaliar a própria vida interior, e assim, não ficar afastado ou totalmente apartado das beneficiadoras irradiações da Trindade do Amor, Pureza e Justiça Divina.

Essa é uma mensagem de profundo valor, que foi retransmitida há centenas de anos, onde a profecia procura alertar, para que não venha a ocorrer o descalabro da humanidade.




                                                     Escrito por: Yoshio Nouchi 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A lenda do judô: “Ceder para vencer”


       
A lenda do judô: “Ceder para vencer”

“Existem duas lendas que supostamente deram origem ao judô, uma japonesa e outra chinesa”.

A lenda japonesa falade um salgueiro e de uma cerejeira no inverno.

Os galhos da cerejeira quebravam tal qual fósforos sob o peso da neve, enquanto que o salgueiro, flexível, cedia e fazia a neve escorregar, não
dando a chance de pressioná-lo.

Este é o princípio do Judô: ‘Ceder para Vencer’.” 

Obs.: Texto original extraído do site: www.pdcinho.onegaibr.com

Análise do texto:

Esta singela lenda do judô nos adverte para o que é vivo e o que está morto.





Escrito por: Yoshio Nouchi

O Pinheiro Puxa-Puxa




              
      O Pinheiro Puxa-Puxa


“Era uma vez um jovem lenhador que vivia no Japão. Ele era muito pobre, mas de bom coração. Sempre que ia recolher lenha, jamais quebrava os galhos ainda verdes das árvores e sempre recolhia os galhos caídos no chão. Isso porque o bom lenhador sabia o que aconteceria se ele quebrasse uma árvore: a seiva, que é como o sangue da árvore, poderia gotejar e gotejar, como se a pobre árvore estivesse sangrado. O lenhador não queria machucar as árvores e, por isso, nunca quebrava nenhum de seus galhos.

Certo dia, o bom lenhador estava passando sob um pinheiro bem alto em busca de lenha, quando ouviu uma voz dizer:

-Puxa-puxa, minha seiva se esvai; de meus galhos quebrados ela cai.

O lenhador olhou ao redor e percebeu que alguém havia quebrado alguns galhos do pinheiro, e agora sua seiva gotejava. Ele habilmente emendou os galhos quebrados, dizendo:

-Nos galhos frágeis faço um remendo, para a seiva não descer correndo.

Ele cortou as tiras de suas próprias roupas para fazer curativos. Assim que terminou de remendar os galhos, muitas gotas de ouro e prata caíram da árvore- eram moedas! O lenhador ficou muito surpreso e mal pôde acreditar no que seus olhos viam. Ele olhou para cima do pinheiro e agradeceu. Depois, recolheu todas as moedas e levou-as para casa.

O bom lenhador tinha tantas moedas de ouro e prata que imaginou ter se tornado um homem muito rico.

Pinheiros são símbolos de prosperidade no Japão, e com certeza, o pinheiro agradecido retribuiria sua boa ação com este ato de generosidade.

Nesse momento, uma face apareceu na janela da casa do lenhador- era o rosto de outro lenhador. Mas esse lenhador era uma pessoa maldosa. De fato, foi ele quem quebrou os galhos do pinheiro.

Ao ver as moedas, o lenhador mau perguntou:

-Onde você conseguiu todas estas moedas? Que brilhantes e bonitas elas são!

O bom lenhador mostrou as moedas para o outro ver. Elas eram de um formato oval, como as moedas usadas antigamente no Japão;e ele tinha cinco cestas delas. O bom lenhador contou ao outro como conseguiu ganhá-las:

-Foi aquele pinheiro grande?

-Sim, foi! - confirmou o bom lenhador.

-Humm- disse o lenhador mau, e saiu correndo o mais rápido que pôde. 

Ele queria algumas das moedas para si mesmo.

Rapidamente, o mau lenhador foi até o velho pinheiro, e a árvore disse para ele:

-Puxa, puxa, minha seiva se esvai;me toque e verá como ela cai.

-Oh, isso é tudo o que eu quero- disse o mau lenhador. –Uma chuva de ouro e prata!

Ele foi até o pinheiro e quebrou o galho. O pinheiro de repente despejou muitas gotas sobre o mau lenhador. Mas eram gotas de seiva, pegajosas como um puxa-puxa.

O mau lenhador ficou coberto de seiva, braços e pernas. A seiva era tão grudenta que ele não conseguia se mover. Embora tenha gritado por ajuda, ninguém pôde ouvi-lo. Ele teve de ficar ali por três longos dias- um para cada galho que quebrava, até que a seiva se tornasse macia o bastante para ele conseguir se arrastar até a sua casa.


E, após o ocorrido, o mau lenhador nunca mais quebrou outro galho verde de árvore.”


Obs.: Texto extraído do Livro: As Histórias Preferidas das Crianças Japonesas, Livro 01, pg. 48, Editora JBC.

Análise do texto:

 Procurando simplificar ao máximo, segue a mensagem que foi passada para a posteridade:

 O lenhador era pobre,mas de bom coração, e procurava respeitar tudo o que estivesse a sua volta, onde até um pequeno detalhe lhe era importante, e a natureza retribuía cada ato de generosidade.

 Em outros termos, mas com o mesmo efeito, vale lembrar daquele ditado, o que semear, colherá multiplicado.

   Escrito por: Yoshio Nouchi

As Lágrimas do Dragão


             

           As Lágrimas do Dragão






“Em um lugar muito longe, em um país estranho, vivia um dragão. Sua casa ficava em uma caverna funda, encravada na montanha, de onde seus olhos brilhavam como faróis. Quando algumas pessoas que viviam nas proximidades estavam reunidas à noite ao redor do fogo, alguém costumava falar:

- Que dragão terrível vive perto de nós!

E outra pessoa concordava, dizendo:

- Alguém precisa matá-lo!

Sempre que as crianças ouviam sobre o dragão ficavam apavoradas. Mas havia um garotinho que nunca se amedrontava com essas histórias. Todos os vizinhos diziam:

- Que garotinho engraçado!

Quando se aproximou o aniversário dele, sua mãe lhe perguntou:

- Quem você gostaria de convidar para o seu aniversário?

E o garotinho disse:

- Mãe, eu gostaria de chamar o dragão!

- Você está brincando?- disse sua mãe surpresa.

Ele respondeu muito decidido:

 - Não, estou falando sério: quero convidar o dragão.

Assim, no dia anterior ao seu aniversário o garotinho saiu furtivamente da casa. Ele caminhou, caminhou e caminhou até alcançar a montanha onde vivia o dragão.

- Olá, Senhor Dragão! – o garoto chamou do vale, gritando o mais alto que pôde.

- Qual é o problema? Quem está me chamando? – rugiu o dragão, saindo de sua caverna.

O garotinho disse:

- Amanhã é meu aniversário, e haverá um monte de coisas boas para comer. Por favor, venha à minha festa. Eu percorri todo esse caminho até aqui para lhe convidar.

Primeiro, o dragão não pôde acreditar no que ouvia, e continuou rugindo para o garoto. Mas o menino não estava assustado, e continuou dizendo:

- Por favor, Senhor Dragão, por favor, venha à minha festa!

Finalmente, o dragão entendeu que o garoto estava sendo sincero e realmente queria que ele, um dragão, fosse à sua festa de aniversário. Então, o dragão parou de rugir e começou a chorar.

- Que coisa boa me aconteceu! – gemeu o dragão. – Eu nunca tinha recebido um convite de ninguém antes.

As lágrimas do dragão escorreram e escorreram, até que finalmente formaram um rio. Então, ele disse:

 – Venha, suba em minhas costas, e eu lhe darei uma carona de volta para casa.

O garoto subiu bravamente nas costas do dragão feroz, que seguiu adiante nadando correnteza abaixo do rio formado por suas próprias lágrimas. Mas, à medida em que seguia, seu corpo mudou de forma e tamanho em um passe de mágica. E de repente – quem pode explicar! – o garotinho estava navegando bravamente rio abaixo em direção à sua casa como capitão de um barco-dragão a vapor!”


OBS.: Livro de Consulta: As Histórias Preferidas das Crianças Japonesas, Livro 02, 2005, pág. 13, Editora JBC.            

Análise do texto:

Esta história, como tantas outras que foram transmitidas para vários povos e para a humanidade, vem nos alertando há algumas centenas de anos para que mantenhamos a espécie do nosso espírito puro e infantil. 
Ela adverte para o perigo de aceitar de uma forma irrefletida, dogmas e ensinamentos rígidos e pré-concebidos, diferentemente quando se procura seguir a voz interior.
Tudo o que é inflexível é como um galho seco, diferente de um galho verde que é flexível; assim é a infantilidade, que contribuiu para romper com o tradicional que imperava no seu meio.
O menino aniversariante simplesmente seguiu a sua intuição, e quando chegou àquela data especial, deixou para trás o seu corpo de matéria grosseira, e a sua alma pura, sendo reconduzido por servos do Altíssimo pelos rios da vida, de volta para casa, à terra natal. Uma história que ficou para a posteridade, que nos conta de uma forma figurada como deve ser o verdadeiro ser humano, uma criança, um eterno aprendiz neste grande lar da Criação.




                                                             Escrito Por: Yoshio Nouch
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