quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O macaco de rabo curto


O macaco de rabo curto



“Era uma vez um macaco muito jovem e tolo. Ele estava sempre pregando peças e fazendo coisas perigosas e tolas. Todos os outros macacos viviam lhe dizendo para ser mais cuidadoso, ou qualquer dia acabaria se machucando, mas ele não escutava.

Certo dia, o macaco tolo correu pela floresta, subindo nas árvores mais altas e pulando entre os galhos mais longos. Mas ele era tão descuidado que caiu da árvore em cima de uma moita de espinhos, e um espinho longo e pontiagudo espetou a ponta do seu rabo.

-Ai! Oh! Ai!- ele berrou, segurando a cauda. – Oh, como isso dói - gritava muito alto.

Como podem ver esse não era de modo algum um macaco durão. Naquele momento, um barbeiro passava por ali, carregando sua navalha. Quando o macaco o viu, pediu:

- Por favor, Senhor Barbeiro, ajude-me a cortar estes espinhos do meu rabo.

O barbeiro abriu sua navalha pra cortar os espinhos fora. Mas lembre-se, o macaco tolo não era muito corajoso. Ao ver a navalha se aproximar de seu rabo, gritou:

-Oh, isso vai doer! – e deu um grande pulo.

A navalha atravessou o rabo, cortando a ponta fora!

Quando o macaco se deu conta do que havia acontecido, ficou muito bravo.

- Veja só o que você fez com o meu rabo - disse ele. Você precisa colocá-lo de volta, do contrário terá de me dar a sua navalha.

O Barbeiro não pôde colocar o rabo do macaco de volta, e, para compensar, deu-lhe a navalha. O macaco foi caminhando pela floresta, levando a navalha consigo. Ele parecia muito idiota com o rabo curto, mas estava tão orgulhoso da navalha que nem parou para pensar no seu próprio rabo.

Em seguida, o macaco dirigiu-se a uma velhinha que estava recolhendo lenha na floresta. Alguns dos gravetos eram longos demais, e ela estava tentando quebrá-los em pedaços menores para levá-los a sua casa. O macaco observou a velhinha por um instante. Ele queria muito mostrar a alguém sua bela navalha, e essa seria uma boa chance. Então, ele disse:

- Olhe vovó, eu tenho uma navalha bonita e afiada. Você pode   pegá-la emprestada para cortar a lenha, se quiser.

A velhinha ficou muito satisfeita.

- Muito obrigado, macaco – respondeu ela, e começou a cortar a madeira com a navalha do macaco.

Acontece que uma navalha não foi feita para cortar lenha, e logo a lâmina ficou cheia de fendas e cortes. Quando o macaco viu isso, ficou muito bravo.

-Veja só o que fez com minha navalha! Você precisa me devolver a navalha do mesmo jeito que estava antes, ou terá de me dar a sua lenha.

Claro que a velhinha não pôde consertar a navalha. Assim, ela entregou a lenha ao macaco. Então o macaco tolo seguiu caminhando para a floresta, carregando a lenha com ele. Ele parecia idiota com o rabo curto, mas estava tão orgulhoso da lenha que nem pensou em seu próprio rabo.

Um pouco depois, o macaco viu uma confeiteira fazendo biscoitos. Acontece que o macaco adorava biscoitos mais do que qualquer outra coisa, e ficou com uma vontade de comer alguns. Ele disse:

- Olhe confeiteira, tenho lenha ótima e bem seca. Você pode pegá-la emprestada para assar seus biscoitos.

A confeiteira ficou muito satisfeita, porque a madeira que estava usando era verde e não queimava muito bem.

-Muito obrigada, macaco – disse a confeiteira.

Então, pegou a lenha e a colocou todinha no fogo. Acontece que o fogo estava muito alto e a lenha seca queimou rapidamente. O macaco ficou observando até que todos os biscoitos fossem assados. Oh, como cheiravam bem! Ele ficou lambendo os beiços. Finalmente, a confeiteira tirou os biscoitos do fogo. A essa altura, toda a lenha tinha sido queimada até as cinzas. Quando o macaco viu isso, ficou muito bravo.

-Veja só o que você fez com a minha lenha! - reclamou ele. – Agora, precisa devolvê-la para mim da mesma maneira que estava antes. Do contrário, terá de me dar alguns biscoitos que assou.

- Mas como eu posso devolver a lenha? – perguntou a confeiteira. – Você a viu queimando no fogo.

- Eu não posso fazer nada - disse o macaco. – Você precisa         devolvê-la, ou terá de me dar alguns biscoitos.

Naturalmente, a confeiteira não conseguiu transformar as cinzas em lenha novamente, portanto, teve de dar ao macaco alguns biscoitos, ainda fumegantes, saindo do forno. O macaco tolo seguiu caminhando pela floresta, mordiscando os biscoitos deliciosos. Ele parecia muito idiota com aquele rabo curto, mas estava tão ocupado comendo os biscoitos que nem prestou atenção em seu próprio rabo.

Nesse momento, o macaco viu um velhinho carregando um velho gongo de bronze.

- Não seria maravilhoso ter um gongo como aquele? – disse o macaco a si mesmo. – Assim, todo mundo me escutaria.

Ele ainda tinha muitos biscoitos de sobra, então falou:

-Ei, vovô, eu tenho alguns biscoitos deliciosos aqui. Vou dar-lhes em troca deste maravilhoso gongo. E ele deu ao homem um dos biscoitos para experimentar. O velhinho comeu o biscoito, e achou tão delicioso que quis comer mais.

- Você pode levar o gongo, e eu ficarei com os biscoitos - concordou o velhinho.

O macaco pegou o gongo e subiu até o topo da árvore mais alta da floresta, onde os galhos eram finos. Ele parecia idiota com o rabo cortado, mas estava tão orgulhoso de si mesmo e de seu gongo de bronze que nem pensou a respeito. Ele bateu o gongo com força e cantou tão alto que todos os macacos ouviram. E foi isso que cantou:

- Sou o macaco bonito,

o verdadeiro rei da cocada,

com o meu gongo de bronze,

sou o líder da macacada

Bong! Bong! Bong!

Eu tinha um belo rabo

e o troquei por uma navalha,

e a troquei por alguma lenha,

e a troquei por uns biscoitos,

e os troquei por um gongo -

um belo gongo de bronze

Bong! Bong! Bong!

O macaco tolo cantava balançando seu rabo curto no ar, e parecia muito estúpido aos macacos que assistiam ao espetáculo. No momento do último “Bong!”, ele bateu no gongo com tanta força que caiu da árvore, bem em cima de outra moita de espinhos. Os outros macacos riram muito, enquanto tiravam os espinhos do macaco tolo. Após o ocorrido, eles o apelidaram de Macaco Rabo Curto Bong Bong, e nunca mais ele pôde esquecer-se do próprio rabo.” 

Obs.: Livro de consulta: As Histórias Preferidas das Crianças Japonesas, livro 01, 2005, pág. 100, editora JBC.

Análise do texto:

Convido os leitores e amigos a interpretar algumas histórias da cultura japonesa com a nossa intuição. Sendo assim, esta mensagem serve para que não enveredemos na mesma trilha, em que a história é bem clara, e para que não abriguemos a vaidade dentro de nosso íntimo.

Ela torna as pessoas injustas, provocando sofrimento e prejuízo aos outros. 

Essa atitude deixa as pessoas cegas e intolerantes, e só tende a aumentar cada vez mais, sem se importar com os valores dos outros. Assim, chega ao ponto de toda sua comunicação estar impregnada na maestria para enganar a si mesmo, alertando que, até correríamos os riscos de comercializar partes de nossos corpos para atender aos desejos insaciáveis da vaidade.

Ao olhar de um observador sereno, o qual inúmeros auxílios já recebeu, torna-se ridículo todo esse proceder.

A advertência mais grave era para que os seres humanos não viessem a abrigar a vaidade espiritual, e assim, não procurassem mais saber como deveriam viver para serem agradáveis ao Altíssimo.
A vaidade tem inúmeras faces e cabe a cada um avaliar e reavaliar a própria vida interior, e assim, não ficar afastado ou totalmente apartado das beneficiadoras irradiações da Trindade do Amor, Pureza e Justiça Divina.

Essa é uma mensagem de profundo valor, que foi retransmitida há centenas de anos, onde a profecia procura alertar, para que não venha a ocorrer o descalabro da humanidade.




                                                     Escrito por: Yoshio Nouchi 

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